Cardeal Dom Paulo EX SPE IN SPEM – De Esperança em Esperança
Dom Paulo Evaristo Arns, nasceu em Forquilhinha, Santa Catarina, em 14.09.1921 (Exaltação da Santa Cruz). Ingressou na Ordem dos Frades Menores (Franciscanos) em 1940. Foi ordenado presbítero em 30.11.1945, em Petropoles (RJ).
Como sacerdote frequentou a universidade Sorbonne de Paris, onde formou-se em patrística e línguas clássicas. Foi professor e mestre dos frades, além de atuar como jornalista profissional.
Enquanto trabalhava pastoralmente junto ao povo da periferia de Petrópolis (RJ), foi nomeado pelo Papa Paulo VI, bispo auxiliar de São Paulo e titular de Respecta em 02.05.1966. Sua ordenação episcopal foi em 03.07.1966, em sua terra natal.
Como bispo auxiliar, Dom Paulo atua na Região Episcopal de Sant’Ana até ser nomeado Arcebispo Metropolitano de São Paulo, sucedendo ao Cardeal Angelo Rossi, em 22.10.1970.
Diante do núncio apostólico, bispos e arcebispos, padres, autoridades civis e cerca de 5 mil fiéis, entre os quais sua mãe e seus irmãos, Dom Paulo tomou posse, fez comovente exortação: “Venho do meio do povo desta Arquidiocese a quem já pertencia, do clero a quem amo e de quem sou irmão, dos religiosos que comigo se esforçam para serem sinal de esperança dos bens que estão para chegar, dos leigos que entendem o serviço ao irmãos com tarefa essencial de sua existência”.
No consistório de 05.03.1973 Dom Paulo foi criado Cardeal por Paulo VI, com o título de Santo Antônio na via Tuscolana.
A ação pastoral de Dom Paulo foi voltada aos habitantes da periferia e trabalhadores, a formação de Comunidades Eclesiais de Base nos bairros. Sua forte atuação o levou a ser conhecido como “O Cardeal dos Direitos Humanos”, tendo sido fundador da Comissão de Justiça e Paz de São Paulo.
Durante a ditadura militar, na década de 1970, notabilizou-se na luta pelo fim das torturas e restabelecimento da democracia no país. Ao lado do pastor presbiteriano Jaime Wright, coordenou o projeto “Brasil nunca mais”, que reuniu documentos onde era denunciado a prática de crimes cometidas por agente do Estado contra presos políticos e na obra são relatados métodos de tortura e acusações ilegais. Em 1972, criou a Comissão Brasileira Justiça e Paz, que articulou denuncias contra abusos do regime militar.
Enquanto Arcebispo, instituiu novas regiões episcopais e quarenta e três novas Paróquias, incentivou a Pastoral da Moradia e a Pastoral Operária. Como destaque, construiu 1.200 centros comunitários, incentivou e apoiou o surgimento de mais de 2.000 comunidades eclesiais de base (CEBS).
Em 03.06.1980, acolheu em São Paulo o Papa João Paulo II. Em 03.11.1984 inaugurou a Biblioteca Dom José Gaspar.
Em 1985, com ajuda de sua irmã, a pediatra Zilda Arns, implantou a Pastoral da Criança.
Em 1989 a Arquidiocese de São Paulo, por decisão do Papa João Paulo II, teve seu território reduzido com a criação de novas Dioceses: Osasco, Campo Limpo, São Miguel Paulista e Santo Amaro.
Em 1996, ao completar 75 anos, apresentou renuncia ao Papa João Paulo II por limite de idade. Desde então tornou-se Arcebispo Emérito de São Paulo, sendo substituído por Dom Claudio, Cardeal Hummes.
Optando desde então por viver uma vida mais recolhida, com poucas aparições públicas. Sua última celebração na Catedral Metropolitana de São Paulo, aconteceu no dia 27.11.2016, quando comemorou 71º aniversário de sua ordenação presbiteral (Dia que se comemora Nossa Senhora das Graças). No dia seguinte, foi hospitalizado, vindo a falecer as 11h45 do dia 14.12.2016 (Festa de São João da Cruz).
Coincidência ou não, Dom Paulo nasceu no dia da Festa da Exaltação da Santa Cruz e veio a falecer na Festa de São João da Cruz. Dois homens fortes na fé que souberam vivenciar o que disse Jesus: “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz e siga-me” (Mc 8,34). Dois homens que foram perseguidos e incompreendidos, cada um em seu tempo, mas que souberam amar. “A cruz é o lugar onde ser revela a forma mais sublimes do amor, onde mostra sua essência. A essência do amor se realiza em poder estar no outro enquanto outro, no totalmente outro. O totalmente outro de mim é o inimigo. Amar o inimigo (Cruz), poder estar nele, assumi-lo, isso é obra do amor. Aqui esta sua essência”. Paixão de Cristo, Paixão do Mundo, L. Boffe, Vozes, 1977).
“De esperança em esperança”
Dom Paulo Evaristo Arns
Padre Carlos Alberto de Souza
Fonte: Radio Vaticano – 14/12/2016
Povo de Deus em São Paulo, Ano 41, Dezembro 2016